TÉCNICAS DE VÔO

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Vôo Térmico
Aproximação
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Avançado:
Teoria MC.Cready
Teoria do Hexagono
Vôo de Distância
Os Segredos de Tomas Suchanek
Introdução ao Uso do GPS
Meteorologia:
Dicionário das Núvens
 
 

 

VOANDO NO AZUL - Fiquei sabendo da teoria hexágono de formações de núvens em 1992. Isto me ajudou muito a entender o céu (condição) e melhorar meu XC significativamente. Eu escrevi um texto nesta coluna naquela época. Desde então, eu considero esta teoria quando observo as formações de núvens. Recentemente eu estava num vôo (comercial/passageiros) sobre o Colorado, EUA, quando pude visualizar algumas ótimas formações de núvens de acordo com a teoria hexágono e não resisti a tirar algumas fotos.

A CONCLUSÃO DO SAHARA
Vou começar explicando a teoria do hexágono do início. Nos anos 80, havia um grupo de meteorologistas franceses que foram ao Sahara para estudar como as núvens se formam numa região sem fontes de térmicas. O deserto que eles estudaram era coberto com pequenas dunas de areia e não havia qualquer outro recurso significante. A areia era de cor uniforme e não haviam montanhas ou morros para formar ou disparar termais. Quando a atmosfera estava instável as térmicas continuavam subindo(formando) da forma como se esperava, mas eles tiveram algumas outras conclusões interessantes. Eles concluíram que, em condições de vento zero, as térmicas se formam nas bordas de áreas(formato) hexagonais. Estes hexágonos possuem um formato regular e comprimento de cada lado de 6km.

CÉLULA DE CIRCULAÇÃO
Imagine uma grande panela com água fervendo em um fogão. À medida que a água ferver, irão se formar bolhas que sobem da mesma forma que as térmicas sobem pela atmosfera e estas bolhas irão subir em algumas áreas e a água irá, também, fluir para baixo, para o fundo da panela, em outras áreas, formando, assim, células de água que circulam. O tamanho destas células numa panela é, claro, somente de alguns centímetros, mas, na atmosfera, ocorre uma situação semelhante numa escala muito maior. O tamanho exato dos lados do hexágono vai claramente variar de acordo com a densidade e viscosidade do ar. A altura da base das núvens e a força das térmicas serão, também, fatores importantes, mas dá para entender o princípio(fundamento).

 

EFEITO DO VENTO
Aqui vai a parte interessante. Quando há vento, a teoria diz que dois lados do hexágono(de núvens) irão, automaticamente, alinhar-se com a direção do vento e estes dois lados se tornarão mais longos(compridos). Quanto mais forte o vento, mais longos(compridos) serão estes dois lados. Os outros quatro lados do hexágono irão continuar com 6km. Estes lados longos do hexágono são, obviamente, os 'cloudstreets' (caminho de núvens).

IMPLICAÇÕES PARA OS PILOTOS
Isto tem importantes implicações para pilotos voando em 'cloudstreets' sobre áreas planas. Primeiramente, isto significa que os 'cloudstreets' não são intermináveis e sim têm um tamanho limitado e se ajustam (posicionam) juntos em uma fôrma de formato hexagonal alondado. Depois, isto significa que se você está voando com vento de cauda (a favor do vento) e chega ao final do seu 'cloudstreet', você não deveria continuar voando diretamente a favor do vento buscando ascendência. A teoria sugere que você deveria virar uns 60o fora do vôo com vento de cauda e voar com vento de través por aproximadamente 6km, onde (quando) você deveria encontrar o início do próximo 'cloudstreet', se tudo estiver indo (acontecendo) de acordo com a teoria.

 

BURACOS AZUIS
A teoria do hexágono também explica porque temos "buracos azuis". Eles são, simplesmente, o meio dos hexágonos. Eu costumava pensar que se voasse para dentro de uma área de céu azul, onde o sol batia no solo com intensidade, então inevitavelmente seria recompensado com uma boa térmica. Eu logo descobri que esta idéia não funcionava bem e terminei muitas vezes no chão olhando a condição maravilhosa na direção do vento por causa de um pouso prematuro. A teoria do hexágono diz que o ar está fluindo para baixo nestes "buracos azuis" e, então, mesmo com o sol batendo no solo, não dá para superar(vencer) o fluxo descendente de ar.

 

MONTANHAS
É importante entender que a teoria do hexágono deve ser aplicada somente sobre áreas planas. Montanhas são fontes térmicas tão fortes que destroem(inviabilizam) a aplicação da teoria, mas, o que eu acho interessante é que esta teoria explica porque algumas fontes térmicas funcionam e outras podem não funcionar. Se você tem duas fontes térmicas de mesma intensidade(força) então aquela que se alinha com o formato hexagonal é provavelmente a que irá funcionar e a que está no "buraco azul" não irá funcionar, mesmo pensando(achando) que ela está ótima.

 

COMO VOAR NO AZUL

Sair para voar no azul tem tudo a ver com confiança. Muitos de nós pilotos de planador nos sentimos felizes em voar grandes distâncias em navegações sob as nuvens, mas basta que as marcações brancas e vaporosas sejam removidas do céu e muitos pilotos subitamente ficam nervosos.

Isto não precisa ser assim. Voar no azul é divertido e se encarado corretamente, relativamente fácil.

Eu descobri na década de 80, que muitos pilotos em meu clube (Keevil naquele tempo) ficavam extremamente relutantes em sair para navegar com céu azul. Isso acontecia também comigo. Como queria melhorar a qualidade do meu vôo, eu tinha que dominar todas as formas de voar e não apenas quando havia cúmulus, e isso requeria compreender as condições de voar com térmicas secas.

Só porque não existem nuvens, isso não quer dizer que não existam térmicas. Você alguma vez já saiu de bicicleta antes de ir aguardar horas no aeródromo embaixo de chuva? Você se lembra como em alguns locais havia trechos quentes e abafados enquanto em outros havia frio (assumindo que você não estivesse com vento de frente)?

Eu chamo esse trechos de pontos quentes e de pontos frios. Alguns deles têm quase uma milha.

 

Pontos quentes
Estas áreas de terreno parecem armazenar o calor recebido do sol por mais tempo e formam as térmicas que nós utilizamos. Elas também causam as áreas mais frias ao redor pela substituição do ar quente que se desloca para cima e a entrada de ar frio. Estou convencido que algumas áreas rurais nunca produzem térmicas enquanto outras parecem estar constantemente produzindo-as. Muitos dos pontos quentes têm os chamados "gatilhos", que podem variar dependendo da força e direção do vento. Estes pontos podem ser pequenas colinas, pedreiras, pátios de fazendas, fábricas ou usinas, e assim por diante. Alguns desses pontos estão na lista abaixo e para facilitar a compreensão, foi dada uma pontuação de 0 a 10 na sua capacidade de gerar térmicas:

 

DESCRIÇÃO

PONTUAÇÃO

Fogueiras grandes (canavial)

10

Cidades médias cercadas por colinas

8

Usinas funcionando

8

Cidades médias

6

Face sul de montanhas

6

Grandes postos de combustível ao lado de estradas

6

Grandes fabricas e áreas de armazenagem (pátios)

6

Grandes terrenos arados com um trator trabalhando

6

Vale estreito no sentido leste-oeste com pequena vila

6

Grandes florestas no fim de tarde

4

Fogueiras em folhas e detritos

2-0

 

As térmicas geradas por densas áreas reflorestadas no final da tarde são leves e constantes sem os pulsos que caracterizam as térmicas secas. Elas são computadas como uma nota 4 em dias de vento fraco, e não tem valor algum em dias de vento forte. Você irá descobrir que essas térmicas contêm mais mosquitos que usualmente, portanto verifique suas asas antes de iniciar o seu planeio final!

Fogueiras às vezes também valem a pena e por duas vezes me levaram de volta para casa: uma vez num percurso de 300 Km e em outra para ajudar a completar a última perna de um circuito de 700 Km. Eu acredito que elas agem como gatilho bem mais do que geradores de térmicas por si só. As fogueiras pequenas valem entre 0 e dois pontos - sendo o zero o primeiro dígito da sua equipe de resgate!
 

E agora o trabalho leve: o que você tem que fazer é somar os pontos dos "geradores de térmicas" que visualizar na sua rota prevista. Se a soma for maior que 10 pontos vá em frente. Uma colina com sua face sul sendo arada por um trator soma 12 pontos. De fato você não tem que fazer contas, apenas olhar a paisagem abaixo e procurar qualquer coisa que garanta no mínimo 2 pontos.
 

Imagine que você está voando sobre uma grande cidade cercada por colinas. Para onde você vai? Primeiro procure por outros planadores girando térmicas nos arredores, se não houver planadores a vista, o que você tem realmente que fazer é voar sobre a face sul das colinas mais batidas pelo sol e a favor do vento que sopra sobre a cidade, e se ainda nada de melhor acontecer então voe diretamente sobre a cidade no eixo do vento tendo como objetivo o seu próximo ponto quente - o qual você já deverá ter identificado antes de tentar o primeiro ponto.

Em outras palavras, use as características favoráveis do solo sobrevoado como se fossem nuvens e navegue entre eles na direção do seu objetivo. Não é difícil que você tenha que se afastar até 45 graus da sua rota para percorrer o caminho, mas tente se manter contra o vento de forma que ele sempre te traga de volta para o seu curso e não a favor do vento o que te forçaria a uma luta muito maior para retornar ao objetivo. Ficando contra o vento nessas ocasiões, você pode depois voar com vento no través até o seu objetivo, ganhando altura e tempo.

 

Calotas na inversão
Para ver as calotas ou pequenas perturbações na linha de inversão mais facilmente, você necessita de um bom óculos escuros marrom (Eu uso Serengeti Stradas). Eles não são normalmente encontrados em óticas, mas estou certo que se você pedir eles irão conseguir para você.

As calotas na inversão podem ser vistas quando voando sul para o sol, mas quando você gira em direção ao norte elas parecem desaparecer.

O que vale a pena tentar é o seguinte: voando norte tão logo sinta a turbulência de uma térmica mova o planador de forma a poder olhar para trás sobre seu ombro no sentido do sol para ver a posição da calota atrás de você. Se ela estiver lá, gire e volte para começar a subir.

Nunca perca tempo na base de uma nuvem quando voar local: use o tempo para praticar. Abra o freio e desça para digamos 600 metros e comece a subir novamente, mas agora olhando somente para o chão. Saiba reconhecer de imediato os pontos quentes. Vá de novo para baixo até digamos 450 metros e veja se és capaz de subir novamente. Não entre em pânico, apenas voe ao redor até você localizar a térmica! Ignore as nuvens lá em cima.
 

Antes de tentar navegar longas distâncias no azul, você deverá praticar e desenvolver suas habilidades na apreciação da direção e intensidade dos ventos. Estas habilidades são provavelmente as menos desenvolvidas e menos entendidas pelos pilotos com poucas horas de vôo. Trabalhe sempre na direção exata do vento de forma a aprender a se aproximar do ponto quente com vento a favor ou contra. Fazendo assim você não tem como perder a térmica, desde que ela esteja lá.

Se você entrar na térmica, gire para o vento e reduza a velocidade, espere até o vario mostrar uma redução da subida e então gire novamente. Se após algumas voltas, a média da subida parecer estar caindo, penetre mais no vento, espere e repita. Eu aprendi que assim funciona.

 

Para fazer suas praticas no azul mais fáceis, programe seus percursos contra ou a favor do vento: logo você vai descobrir ruas de pouco afundamento ou de sustentação. Eu descobri que sempre há um bom ponto quente ao longo dessas ruas. Quando você esta navegando no azul, achar uma dessas ruas é de grande valia. Se você for bravo, você verá que quanto mais baixo estiver, a sustentação desses pontos será maior, mas o risco é todo seu! Permaneça alto por enquanto, e eu verei vocês todos navegando a 450 metros no próximo ano. Para ajudar na melhoria das suas qualidades no vôo, solte o cabo pouco acima da metade do reboque, pois isto o forçará a achar sustentação logo. Muitos dos pilotos de cross-country no meu Aeroclube fazem o reboque no meio da manhã com lastro. Não é raro sairem com lastro de 90 a 120 litros.

Dentro do cockpit
Sempre use um chapéu de piloto de planador (cata-ôvo). O meu é feito de pano de toalha que, uma vez molhado com água gelada, retém a umidade por mais tempo que os chapéus de algodão. No manche eu coloco uma fita auto- adesiva de raquete de tênis, também feita com um tecido semelhante a toalha, que evita que a mão fique suada e escorregando.

Água

É mais importante dentro de você que nas asas. Tente tomar ao menos uns 400ml logo antes do reboque, e tome mais um pouco a cada 10 minutos (eu tomo uma boca cheia de água a cada térmica). Tenha certeza antes do reboque que você pode alcançar a água. Ela não terá utilidade nenhuma atrás do seu banco ou pior ainda no seu carro.

Após praticar por toda uma temporada, você verá que sua confiança terá aumentado e voar as provas no azul são desafios gratificantes. E mantenha a procura por aquele trator arando a face sul da colina batida pelo sol e com pequenas fogueiras de detritos bem no lado do vento que vem da cidade!