Trocando em palavras o que se disse
sobre basebol no filme de Bull Durham, o vôo livre é uma questão
simples: decola-se com a asa, voa-se e depois pousa! Provavelmente
com a experiência de muitos anos de esporte, fica claro que o vôo
livre padece de um excesso de entusiasmo que mitificam o esporte e
sua essência tão sensível aos leigos. Sem dúvida existe uma
extraordinária complexidade e diversos níveis, mesmo sem
enfatizarmos os aspectos misteriosos, pois temo intimidarmos os
iniciantes e inibí-los em seu aprendizado. Aqui colocarei uma lista
do que é constituído o vôo de cross coutry ou vôo de distância.
Para isso, levo em conta que o leitor
tenha certa experiência com térmicas, estas são habilidades podem
ser aprendidas na teoria em excelentes livros como o "PERFORMANCE
FLYING" de Dennis Pagen. O objetivo deste artigo é integrar estas
habilidades básicas em uma estratégia.
O que vamos dizer aqui, difere do que
muitos dizem por aí sobre o vôo livre e suas formas emocionais de
combater uma insegurança pessoal, enfrentando o incerto e nomeando o
esporte como algo prazeroso pois é radical! Na verdade, aos pilotos
que vão a fundo no vôo livre, o esporte é um verdadeiro Xadrez
tridimensional com algumas peças invisíveis e diferem muito dos
grandes grupos que liftam a montanha, pois estes aprendem a exigir
persistência, decisões, segurança, distâncias e velocidade.
Estas são regras utilizadas pelos
jogadores de Pocker: saber quando segurar uma carta e quando
mostrá-la. Os voadores as vezes devem trabalhar com o que tem ou as
vezes devem abandonar para tentar algo novo, algo distinto, sem
saber ao certo o resultado. As seguintes regras permitem ao piloto
uma sensível escolha de qual decisão ou caminho tomar, o da
persistência ou o da decisão: ficar? ou Ir?
Com estas idéias na cabeça, o material
seguinte está dividido em três seções que enfatizarão decisão e
persistência e aquelas situações em que o piloto deve decidir entre
as elas!
DECISÃO
Ir pelas ascendentes
Há alguns anos atrás li uma história
de Rich Pfeiffer voando em Ellenville (N.Y.) em um dia em que ele
foi em uma direção diferente do que a direção tomada pelos pilotos
locais. E foi por consequência retribuído com o melhor vôo do dia.
Tal qual eu recordo, ele me falou depois que havia decidido voar
pela única linha de cúmulos em desenvolvimento enquanto os locais
haviam seguido as rotas convencionais do local e se desligaram
daquelas nuvens.
Parece absurdo ter que lembrar os
pilotos de que eles deveriam seguir as fontes mais destacadas de
térmicas, porém vemos que outras coisas interferem com este nosso
primeiro princípio. Muitos agarram-se em seus hábitos de se
preocuparem com um bom local para resgate ou em retornar para o
pouso oficial, o que os distraem de encontrar boas térmicas. Se você
pretende permanecer voando, busque as térmicas.
Siga as núvens
Sobre todas as coisas as nuvens são o
indicador disponível mais confiável da existência de térmicas no
momento do vôo. Elas dizem ao piloto onde pode haver ascendentes,
quanto tempo durará, sua possível intensidade muito importante
também, onde estarão as descendentes! Por exemplo: se o piloto
observa uma grande área azul cercada por um mar de cúmulus, o mesmo
deveria evitar esta área que provavelmente está com um grande índice
de descendentes.
Ascendentes e Descendentes
No momento em que os pilotos
inexperientes se confrontam com descendentes, eles muitas vezes
fazem uma curva de 180º retornando por onde vieram para fugir da
descendente, cometendo um grave erro, por 2 razões: Primeiro,
se estão atravessando uma descendente, é muito provável que haja uma
ascendente logo à frente ou ao redor. Lembre-se de que a atmosfera
está em equilíbrio, se o ar está descendo como louco, em algum outro
lugar ele está se elevando com uma intensidade razoável. Segundo,
se você está passando por uma descendente, girar e fazer novamente
este mesmo caminho, é querer descer como uma pedra! Em outras
palavras, a probabilidade de acharmos uma térmica se incrementa
notavelmente se continuarmos seguindo adiante.
Se não está aqui, vá para qualquer
lado
Esta deve ser nossa religião. Muitos
pilotos inexperientes pousam bem rápido. São um pouco displicentes
com a lei da gravidade e suas consequências. A lei da gravidade vai
prevalecer durante todo o vôo, porém o nosso objetivo é atrasar o
final do vôo ao máximo e para isso temos que achar as danadas das
térmicas, lendo as nuvens ou observando os terrenos e seus possíveis
gatilhos como linhas de montanhas, pequenas colinas, onde o sol está
incidindo, linhas de florestas, arados e etc... Muitos pilotos
vacilam voando no mesmo local em que já perderam muita altura, não
se movendo rapidamente voando sobre as diversas possibilidades e
indo diretamente ao pouso!
Quando você voa com o vento de cauda
Esta é uma regra de Thomás Suchanek e
é refinamento do parágrafo anterior: quanto mais terrenos e maior o
percurso que voamos, maiores as chances de encontrarmos uma térmica.
Obviamente a estrutura do terreno abaixo e a formação das núvens em
cima, determinam onde podem-se formar as térmicas. Por esta razão,
quando voamos com o vento de cauda, voamos com maior velocidade
sobre o terreno, cobrindo uma área maior e com isso um maior número
de possibilidades de encontrar uma ascendente. a não ser que haja
alguma razão para termos que voar com o vento de frente, pois voar
com vento de frente em um vôo de distância ou cross country, é um
desperdício de tempo e altura.
Voar com outros pilotos
Voar com amigos em um longo vôo de
cross country, é um dos maiores prazeres que se tem neste esporte.
Porém é algo muito difícil de se fazer e que muitas vezes diminui a
performance do vôo. Isto porque, cada um de nós tem seu próprio
nível, estilo e diferentes equipamentos o qual fica difícil seguir a
mesma trajetória com a mesma velocidade. Muitas vezes fazendo com
que pilotos com equipamentos ou níveis inferiores, forcem mais e
acabem pousando, ou ao contrário pilotos com bom equipamento e
melhor nível, voem lento para esperar, dificultando o desenvolver do
vôo em distância.
Trabalhar as pequenas ascendentes
Um dos grandes erros no vôo de
distância é querer voar somente em condições fortes, com um bom
vento de cauda e térmicas com índices altos de subida. Para ser
franco, voar com vento forte de cauda e fortes térmicas realmente
nos possibilita longos vôos. O problema é que mesmo em dias muito
fortes, encontramos períodos de piora e térmicas fracas onde temos
que trabalhar com um zerinho, durante dezenas de minutos. Na
realidade, foram raras as vezes em que em longos vôos que fiz, tive
boas térmicas desde a decolagem até o pouso. A determinante real dos
meus bons vôos de distância, foram a minha boa vontade de trabalhar
com térmicas fracas, com persistência, paciência e habilidade e isto
é o que distingui os longos vôos dos excelentes e prazerosos.
Troca de marchas
Neste trabalho com térmicas fracas,
devemos agregar a necessidade de reconhecer quando devemos esperar e
trabalhar aquele zerinho ou quando não. Em um vôo longo estão
envolvidas uma grande mistura de condições. As primeiras térmicas
podem ser pequenas e fracas, ao meio do vôo podem se tornarem boas e
ao final do dia podem ficar grandes e fracas. Ou podemos encontrar
durante todo o vôo, estes estilos de térmica desordenadamente!
Qualquer que seja o modelo as condições variam e permitirão ou
requererão diferentes estilos de vôo.
Se as condições estão fortes é um
desperdício se deter em varias térmicas de +0,5. Nestas condições,
devemos planejar a alta velocidade e parar para enroscar somente em
térmicas consideradas fortes a não ser que estejamos baixos ou
atravessando uma área azul! Se em determinado tempo do vôo as
térmicas começarem a perder força, necessitamos diminuir a
velocidade nas tiradas entre as térmicas, aproveitando mais a altura
e o planeio do que o tempo e velocidade.
A dificuldade é reconhecer quando
desacelerar e quando acelerar. Jim Lee, um dos melhores pilotos do
mundo, disse utilizar três marchas de velocidade conforme como lê as
ascendentes a sua frente.
Da mesma maneira, Larry Tudor, pode
ser escutado no rádio, advertindo os pilotos para ir ao que ele
chama de modo de sobrevivência, quando as condições ficam difíceis.
O ponto é que não existe um estilo de
vôo ideal. Seja flexível, mantenha seus olhos bem abertos e integre
tanta informação quanto puder aos indicadores de térmicas que o
cercam. Para então colocar sua sensibilidade para a troca de
marchas, ou seja se você reconhece boas e fortes possibilidades à
frente, acelere. Se você vê fracas possibilidades ou está em altura
ou situação desfavorável desacelere mantenha-se em vôo. Muitas vezes
zerinhos pacientes, viram térmicas boas e ajudam a percorrermos o
dobro do que já havíamos percorrido.
Nunca pare em uma tática: fixando
erros.
O vôo livre é um esporte que se
desenrola em um fluído invisível e infinito com as decisões
que tomamos durante o vôo, que são os resultados de diversas
informações fragmentadas que gravamos durante experiências práticas
e teóricas, que são trocadas com grande velocidade por nossa mente.
Incluindo também as suposições de que podemos "ver" a próxima
térmica embaixo de um bom cúmulo!
É muito difícil tomarmos as decisões
corretas sendo que apenas suponhamos que ela seja correta. E com
certeza muito mais difícil quando não temos indícios visíveis como
por exemplo, outras asas, pássaros, dust devils ou bonitos cúmulos.
Entretanto, os bons pilotos traçam rotas sobre os possíveis
gatilhos, já imaginando a falta de acerto, colocando em seu caminho
duas ou três possibilidades, como por exemplo: com a altura que
tenho e com as nuvens e relevo do terreno que vejo a frente,
primeiro vou a caminho sotavento daquela nuvem, depois no lado do
sol da mesma, não conseguindo nada, vou até aquela linha de árvores
mais à frente ou depois até aquela pequena colina ainda um pouco
mais à frente. E ainda, na hipótese de todas estas opções falharem,
ele também já tem em mente, um local para uma boa aproximação e um
pouso seguro.
Por isso, para sempre visualizarmos
algumas jogadas á frente neste xadrez tridimensional, quanto maior a
experiência, o aprendizado e a quantidade de informações que
gravamos e obtemos com artigos, livros ou voando, maiores as chances
de acertos nas opções das velocidades que imprimiremos, dos
possíveis locais com térmicas, e por fim, da boa segurança de vôo.
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