Artigo publicado na
revista Hang Gliding. Setembro 1996.
por Denis Pagen.
Quaqlquer piloto que tenha prestado
atenção nos resultados das competições já viu o nome de Tomas Suchanek.
Ele ganhou os últimos 3 campeonatos mundiais e está liderando o
quarto. É também o atual campeão mundial de trike. Com 32
competições ganhas, ele é um verdadeiro fenômeno!
Tomas competiu em nosso nacional no
último ano em Chelan, Washington. Ganhou facilmente. Eu estive
voando contra ele em outras competições e senti a força de seus
vortices me deixando para trás. Porém, em Chelan, estava nosso
esquadrão com os melhores pilotos dos Estados Unidos, sacudindo as cabeças atemorizados.
Em um dos dias quando as condições
estavam bem fracas, na decolagem, Tomas girou várias vezes em uma
descendente e por baixo de todos subiu novamente, muito rápido,
ficando acima de todos que esperavam as condições melhorarem.
Um outro dia, decolou tarde e chegou
no Goal uma hora antes que Dave Sharp, o único que também finalizou
a prova do dia, enquanto o vento de frente e as térmicas ruins
devoravam o restante de nós.
Estas histórias se seguem, porém,
vocês viram uma pequena amostra!
Depois deste encontro, resolvi
descobrir seus segredos.
Tomas é simpático e disposto à
discutir tudo o que sabe, ao menos, aquilo que pode colocar em
palavras. Tive a oportunidade de o atrapalhar durante as competições
do último inverno na Austrália. Nestas entrevistas, criamos diversos
artigos para a revista Cross Country.
Mas do que duplicar todo este material
aqui, o deixaremos bem conciso e dirigido aos novos pilotos Norte
Americanos e aos vôos que fazemos aqui. Tomas tem algumas opiniões
nesta matéria que sem dúvida, ajudarão a melhorar muitos pilotos.
Tomas, poderia nos contar
sobre seus antecedentes que se relacionam ao crescimento de
suas habilidades?
Eu comecei voando aeromodelos na
Checoslovaquia, onde nasci, quando tinha apenas 6 anos e asas delta
aos 15 anos, em 1980.
Os aeromodelos são uma ótima
ferramenta para aprender micrometeorologia, já que podem voar mais
baixo do que uma asa delta e são muito sensíveis no ar. Eu construí
meus próprios aeromodelos, por sequência então, construí minhas
próprias asas delta aos sete ou oito anos. Não podíamos comprar asas
novas e tínhamos que fabricar uma grande parte das peças.
Os outros problemas que tive que
enfrentar, que no final resultou em benefício, foram as pequenas
colinas que tínhamos acesso sem a necessidade de carros, pois não
dispúnhamos de nenhum! Isto significa que tínhamos que carregar as
asas nas costas até o topo da pequena colina. Desta maneira,
aprendemos a entender as condições muito bem, movidos pela
necessidade. Frequentemente havia por ali, somente uma meia hora de
ciclo voável e um vento para decolármos de apenas poucos minutos.
Desenvolvemos nossas habilidades de voar lift e térmica aos
extremos, já que a subida era árdua e tínhamos apenas uma chance.
Mais tarde estudei aerodinâmica na
universidade e cheguei a completar o Mestrado em engenharia
aeroespacial. Porém, meus estudos independentes foram tão
importantes quanto os meus estudos formais. No inverno, devorava
livros sobre meteorologia e conhecimentos técnicos de vôo, tratando
de colocar as idéias em prática nas temporadas de vôo. No inverno
seguinte relia os livros e aprendia novas técnicas baseadas nas
experiências recentes de vôo da temporada anterior. Devo dizer que
penso que este é um dos caminhos mais necessários para ser um ótimo
piloto. Não podemos experimentar e entender tudo nós mesmos, os
livros e artigos ajudam enormemente na velocidade de entendimento e
aprendizagem.
Quais as qualidades físicas que
você possui, que o ajudam
a ser um excelente piloto?
Estou em boa forma para o vôo -
vôo ao menos 300 hs por ano - o qual me permitem voar uma asa maior
do que a ideal e mais segura para mim. Isto me ajuda a ter uma taxa
mais baixa de descida.
Me dei conta há alguns anos atrás, que
me saía bem nos primeiros dias de campeonato e depois ia piorando
aos poucos. Compreendi que a fadiga era um dos fatores, então,
comecei a me exercitar, principalmente de bicicleta e comprovei que
isto ajuda. A outra única qualidade física que acho que me dá uma
tremenda vantagem, é o alcance da minha visão. Possuo uma visão
melhor do que a média (20-20) e acho que posso ver asas, pássaros,
nuvens e outros sinais de térmicas talvez melhor que a maioria dos
pilotos. Isto é tranquilamente é um grande benefício em vôos de
Cross Country.
Se você me permite trocar de
assunto “habilidades na térmica”, Tomas, notei que possui uma
misteriosa habilidade para subir no meio de um grupo de asas até o
mais alto ponto.
Minha opinião é que ganhar altura o
mais eficiente e efetivamente é a parte mais importnte do vôo em
competições. Por esta razão me concentrei em desenvolver estas
habilidades. Acho que não sou um piloto nato como Alain
Chauvert, Manfred Ruhmer ou Larry Tudor. Eles parecem possuir um dom
nato, que os permitem visualizar e voar nas melhores áreas da
térmica e permanecerem nela! Eu tive que trabalhar duro para
desenvolver habilidades lógicas para voar minhas térmicas, porém
agora, acho que tenho as técnicas e modelos na minha cabeça para
fazer isto relativamente bem.
A maioria dos pilotos podem fazer
círculos no miolo da térmica, porém, poucos tem cuidado em se
concentrar para fazerem cada círculo tão eficiente quanto possível.
Os miolos estão sempre em movimento, mesmo térmicas suaves não
permanecem estáticas. Eu checo meu progresso a cada 360º e faço
ajustes onde necessário. Sempre trato de formar uma imagem em minha
cabeça de onde está o miolo da térmica. Sempre trabalho para girar
perfeitamente no centro do núcleo e de forma tão lenta quanto
possível, logicamente com certa margem de segurança.
Em térmicas turbulentas, quando se tem
tráfego ou perto das montanhas, não posso voar tão lentamente, porém
nestas situações, vejo onde posso diminuir a velocidade com pequenos
meio giros. A cada pequena oportunidade que podemos extrair do vôo,
aumentam minhas possibilidades.
Quando os núcleos das térmicas estão
muito quebrados é mais importante avaliar cada círculo. A presença
de outros pilotos na térmica é muito importante para esta avaliação,
já que ajudam a identificar onde as ascendentes estão melhores.
Se um piloto rapidamente cai, eu giro
fechado para evitar aquela trajetória. As vezes pequenas ascendentes
se elevam através da térmica e é possível girar fechado para ganhar
altura entre os outros pilotos que se encontram nela. naturalmente
se a térmica está muito cheia e confusa, não se pode fazer isto.
Porém frequentemente as térmicas não são estáveis e é possível
ganharmos altura fora do trafego nos concentrando em maximizar cada
círculo.
Eu aborreço os pilotos que giram muito
abertos nas térmicas (risos). Eles atrapalham todos, pois ninguém
consegue voar no melhor do miolo sem que ocorra um conflito! Para
isto, eu uso um truque: vôo bem atrás do piloto que está voando
aberto, logo que sinto um golpe de ascendente, giro rapidamente mais
fechado, por dentro, e logo fico acima e livre dele! Eu tendo a voar
de modo meio agressivo nos pelotões de competição, até mais do que o
Manfred disse, mas, este é meu estilo. Vôo atento as trajetórias dos
pilotos e espero a oportunidade para sempre alterar minha trajetória
para onde posso maximizar minha subida com segurança.
Sei que tem algumas idéias
referentes a natureza das térmicas e de como se comportam. Poderia
nos falar sobre isto?
Sim, eu penso que é muito importante
ter uma imagem da forma das térmicas em sua cabeça, para explorá-las
ao máximo.
Por exemplo: esta térmica é uma
coluna? É uma bolha de vida curta? É uma bolha de múltiplos núcleos?
Esta inclinada? É larga ou estreita? e assim por diante.
Nós sabemos que as térmicas são
grandes massas com muitas toneladas e que possuem certa inércia.
Isto significa que não se movem livremente com o vento como uma bola
de sabão, mas sim, atuam mais parecido a um balão de ar quente
amarrado. O ar flui ao redor e sobre a térmica, deformando-a um
pouco. A imagem que tenho de uma térmica com o vento, inclui um
incremento de ascendentes e descendentes nos dois lados: barlavento
e sotavento, muito parecido com o fluxo em uma rocha colocada em uma
corrente de água. Isto se deve a ascendente mecânica na parte
frontal e a convergência na parte de traseira. Para fazer uso desta
característica eu trato de fazer meu círculo na térmica de tal
maneira, como se estivesse cavalgando sobre a crista deste anel
externo, onde o ar sobe mais, admitindo que somente o centro é muito
pequeno para um ganho eficiente.
Nesta situação o lado do barlavento é
mais crítico devido a sua descendente mais forte na periferia da
térmica. Frequentemente vejo pilotos voarem nesta borda e perderem
alguns bons metros antes de voltar a achar o miolo. Isto significa
que coloco em jogo toda a minha sensibilidade e concentração. Se tem
algum segredo que eu possua para voar térmicas, é este modelo de
térmica no vento e minha habilidade de surfar sobre esta crista.
Ouvimos relatos de que
recentemente você ganhou alguns campeonatos sem usar nenhum
instrumento. Como fez isto?
Bem, eu vendo meu equipamento
frequentemente. As vezes uso uma asa diferente em cada campeonato,
especialmente se estou desenvolvendo um protótipo. Neste caso, o
último verão, vendi meu vario. Tudo o que eu tinha era um relógio
Avocet para usar como altímetro. Entrei em um campeonato na Europa e
ganhei sem vário. Os pilotos não acreditavam, porém, considerando-se
que gastei muitos anos voando sem vário (pois não tínhamos como ter
um), isto não deve ser surpreendente.
Eu vôo principalmente pela
sensibilidade, uso o variômetro apenas para confirmar o que estou
sentindo, porém, isto não é realmente necessário para a maioria dos
casos. Abaixo dos 500 metros, posso visivelmente detectar minha
ascensão. Acima desta altura, eu gosto de ter um bom altímetro, que
segundo penso, é o instrumento mais útil.
Porém com a minha experiência sem
instrumentos e com outros pilotos no céu, posso ser capaz de voar
térmicas e até ganhar. Desenvolver uma boa percepção sensitiva no
ar, desligando os instrumentos, é uma prática muito útil.
Podemos desviar nossa atenção
para o vôo de cross country? Parte dos segredos para o vôo de
distância, é encontrar a próxima térmica. Tem alguma perspicácia
para nos contar sobre esta arte?
Essencialmente uso os sinais clássicos
como aqueles que você comenta em seu livro Performance Flying. Acima
da metade da altura das nuvens (aproximadamente), olho os sinais nas
nuvens. Abaixo desta mesma metade olho os sinais de possíveis
gatilhos de térmicas no solo. De qualquer modo, estou sempre olhando
tanto para cima como para baixo, mas quanto mais alto estou, mais
olho para as nuvens e vice-versa.
Eu estou observando as probabilidades
e constantemente trato de aplicar a teoria que conheço.
Eu olho a melhor combinação de
formações e condições que resultem a mais alta probabilidade de
produção de térmicas.
O Que particularmente você olha com
relação as nuvens?
Bem, novamente. Eu olho todos os
sinais clássicos como definição das bordas, desenvolvimento
vertical, bases planas e escuras, lado a barlavento, lado do sol e
etc... cada nuvem conta uma história que podemos aprender a ler. A
parte superior nos indica a direção do vento e o vento pode afetar a
formação da ascendente em relação a nuvem. Eu olho principalmente o
lado do barlavento primeiro. Busco uma forma delineada e a área de
maior crescimento.
É muito importante caracterizar o
estado da nuvem. Alguns dias as ascendentes são fracas e não duram
muito, porém as nuvens resistem devido ao ar estar úmido no nível da
nuvem. Outros dias as ascendentes podem durar um longo período,
porém as nuvens desaparecem rapidamente devido ao ar estar seco. Em
dias úmidos as nuvens são menos confiáveis e em dias secos fica mais
difícil, já que elas aparecem e desaparecem rapidamente. Causando um
certo problema.
Usualmente todas as nuvens são
similares em um determinado dia, portanto, eu observo e aprendo
sobre o ciclo de vida da nuvem vigente neste dia. Então no ar,
imagino uns três passos à frente. Sempre estou observando duas ou
três possibilidades muito antes de chegar em baixo de uma nuvem.
Não existe um substituto para o
conhecimento da meteorologia. Esta ajuda a compreender a natureza
das nuvens, temperaturas e fluxos do ar. Por isso eu recomendo um
livro Understanding the Sky.
Obrigado. Pode nos contar o que
observa no solo?
Eu observo tudo o que possui grandes
probabilidades de fabricar térmicas. Talvez a coisa mais importante
que faço á constantemente ficar atento aos fluxos de ar em todos os
níveis (este frequentemente não é o mesmo). Eu gasto horas navegando
de barco, para observar a água fluir ao redor das rochas e troncos,
pois isto me ajuda a visualizar o comportamento do vento sobre as
colinas e montanhas. Sempre trato de imaginar o fluxo de vento. Isto
me ajuda a voar em um local pela primeira vez e entendê-lo
rapidamente. Ager (Espanha) é um local complicado por exemplo. Porém
o lugar mais complicado que eu encontrei foi Fiesch (lugar onde se
realizou o campeonato mundial de 1989 na Suiça). A maioria dos
lugares são fáceis de se compreender, logicamente, as áreas planas
são mais fáceis.
Para ser mais específico, se conheço a
direção do vento, observo os lados a barlavento das colinas e linhas
de árvores e os lados a sotavento de campos escuros, campos secos e
praças de estacionamento. Também observo contrastes tais como áreas
escuras e áreas verdes nas bordas das sombras das núvens.
Naturalmente, observo cuidadosamente a presença de pássaros, dust
devils, objetos voando e outros pilotos. Com o conhecimento do vento
eu imagino o ângulo da térmica e me baseio nos gatilhos e
sinais.
Outras potenciais fontes de térmicas
ou gatilhos estão em zonas de convergência as quais podem ocorrer
com a brisa marinha ou onde o ar escorre através de uma falésia ou
dentro de um vale estreito. Aqui é onde minha minha visualização de
fluxo é utilizada.
Pode nos dar algum exercício
específico de entretenimento para nos ajudar a melhorar?
Sim. Como disse antes, acredito que o
ganho de altura é a coisa mais importante em uma competição. Para o
vôo de recreação também, já que o piloto que sobe melhor é
usualmente quem permanece voando enquanto os outros estão pousando
em dias difíceis. O caminho para praticar o vôo em térmica não é
permanecer acima das outras asas, mas sim, descer em espiral e
voltar a subir diversas vezes. Esta é especialmente uma boa prática
quando outras asas estão ao redor já que permitem medir seu
progresso.
Outra prática importante é voar contra
o vento ou com vento cruzado. Se você sempre voa com vento de cauda
quando voa cross coutry, é relativamente fácil e assim você não
desenvolve tão bem as habilidades tais como leituras de nuvens,
gatilhos e etc... Alguns vôos de cross country requerem voar algumas
pernas com vento de frente e é mais importante praticar para
conhecer como voar as nuvens em estado de sotavento. Também é
importante aprender a ser paciente e conservar a altura necessária
para voar com vento de frente.
Finalmente, eu aconselharia praticar
ir a um ponto e voltar cada vez que voar, mesmo que seja uma curta
distância em seu local de vôo. Desafie-se e melhorarás.
Deixe-me terminar com um relato de
Toni Ranmauf (Austríaco) sobre algo que aconteceu há alguns anos
atrás. Após decolar atrás de você no nacional da Austrália em Mt.
Talbingo. Acreditou ser seu dia de sorte, logo estava com você em
uma térmica de +6 m/s. Repentinamente ele olhou ao redor e você
havia sumido! Logo que o achou, viu que você subia cerca de +9 m/s.
Como fez isto?
Não me recordo os detalhes deste incidente, porém
estou seguro que devo ter visto algum sinal de melhor ascendente. O
mais provável é que tenha visto um pássaro subindo mais rápido que
nós.
Um ponto importante que percebo, é que a maioria dos
pilotos já relaxam achando que estão em uma ótima térmica. E eu
permaneço consciente da necessidade de maximizar meu ganho de
altura, observando ao redor sinais de uma ascendente melhor. Nunca
estou satisfeito!
1. Suchánek Tomáš
- Jičín, LS8
2. Krejčiřík Petr - Hranice, Ventus
3. Loužecký Pavel - Přibyslav, Ventus2
Tomas Suchanek hoje aprimora sua sabedoria nos
campeonatos de Planadores da Classe Standard, ele voa um LS8
defendendo a bandeira da República Cheka, para
variar vem liderando mundialmente a categoria!
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